ABELHA-RAINHA IRRADIA LUZ E MAGIA NA MARQUÊS DE SAPUCAÍ
Nem mesmo quando ia à Marquês de Sapucaí para cobrir o Carnaval do Rio, debruçada nos camarotes ou no meio da pista, conseguia tal façanha. Escola de samba parece sempre tudo igual. Quem vê uma, vê todas, com pequenas variações.
Mas, a expectativa de ver Bethânia pela primeira vez na avenida, como a grande estrela da noite, me manteve acesa, empolgada até o final, querendo registrar cada momento da passagem desta menina dos olhos de Oyá (Iansã, no cadomblé, e Santa Bárbara, para os católicos) junto a seus amigos da MPB e da comunidade, todos muito emocionados por homenageá-la.
A ala inspirada na música Explode Coração, grande sucesso na voz da cantora |
A Mangueira já mexe naturalmente com as pessoas. Faz parte da tradição. Sua bateria afinadíssima faz o coração da gente bater mais forte; ninguém consegue ficar sem se mexer ou se emocionar quando a escola aponta na avenida. Mas este ano, o desfile foi além.
Uma luz enorme se irradiou pela Sapucaí - e ela não vinha apenas das fantasias luxuosas, dos carros alegóricos, das alas coloridas e criativas, que juntavam ali cerca de 3,9 mil integrantes, para contar a trajetória da cantora, que está comemorando 50 anos de carreira. Essa luz irradiava magia e foi tomando conta de todos à medida que a escola desfilava.
A homenagem a Oxum, com banho de cachoeira |
A porta-bandeira, de cabeça raspada |
A Iansã, no ritmo do samba da Mangueira |
O começo do desfile foi um verdadeiro ritual, com Iansãs, Oxuns, tomando banho de cachoeira (havia muita água na pista) e todos os arquétipos da cultura afro. Na comissão de frente, só mulheres, as Oyás, com os seios de fora, mas não de forma vulgar. Estavam lindas. A porta-bandeira, de cabeça raspada (em alusão às filhas de santo), causou impacto.
O Menino Jesus |
Foto Tata Barreto/Riotur |
Era o último desfile da noite e do Carnaval deste ano. O dia já estava quase raiando quando a escola chegou à apoteose. O público saiu das arquibancadas e foi para as pistas, assumindo o papel de passistas, afinal atrás da verde e rosa só não vai quem já morreu.
Cena bonita de alegria, de raízes da MPB, de sincretismo religioso, sem segregação, como tem que ser. A campeã do desfile será conhecida nesta quarta-feira de cinzas (10). Mas a Mangueira já é vitoriosa, nos quesitos alto astral e emoção, além de ter levado o prêmio Estandarte de Ouro como a melhor escola, do jornal O Globo.
Salve a menina dos olhos de Oyá!